quinta-feira, 15 de maio de 2008

O caso do Boavista FC (ou "O paradigma do sucesso dos PME's*)

* Pequenos e Médios Emblemas

Nota Prévia: É normal que, num site criado e gerido por quatro estudantes, quando cheguem os exames (ie agora e nas últimas semanas), a produção de posts abrande ligeiramente. Por isso mesmo queremos agradecer aqueles que continuam a visitar-nos e convidar-vos a voltar e a divulgarem este nosso espaço. Da minha parte (e certamente que falo pelo resto da 'equipa'), obrigado.

O caso do Boavista Futebol Clube, emblema histórico do Porto e deste país, clube formador que "deu o salto" nos anos 80 e 90, vencendo taças, chegando ás portas de uma final europeia e conquistando um título incrível, o "seu" Campeonato Nacional, estando agora falido, abandonado por dirigentes que continuam a negar as suas responsabilidades perante a justiça e a opinião pública, condenado a pagar por erros que não foram só seus, é um exemplo (embora de proporções exageradas) daquilo que sucede, regra geral, em Portugal aos clubes que tentam, de uma forma ou de outra, chegar ao sucesso, intrometendo-se na tradicional rotatividade que é feita pelos três grandes no que á detenção das taças e campeonatos diz respeito.

Os sinais deste fenómeno são evidentes e muito fáceis de antever: um grande investimento na equipa sénior sem um plano de contingência, incapacidade para sustentar o crescimento das despesas, a pouca importância da contribuição económica dos adeptos e sócios para o orçamento do clube, um presidente ou uma direcção que, estranhamente, não olham para a factura que estão a criar e, por fim, o meu favorito, um passivo acumulado.

Ao longo de tantas décadas, mas sobretudo nas últimas duas, assistimos á queda do Tirsense, do Salgueiros, do Leça, do Farense, do Campomaiorense e do Alverca, entre outros. Quer seja por causa das autarquias (Leça e Tirsense), por causa de direcções no mínimo duvidosas (Salgueiros, Alverca e Farense) ou por falta de vontade em gastar mais dinheiro sem obter retorno (Campomaiorense) estes emblemas cairam nas divisões secundárias do futebol nacional, depois de épocas em que alguns até chegaram a ir á Taça UEFA (o Farense em 95/96, eliminado na 1ªronda pelo O.Lyon 0-2 no total das duas mãos).

Será que o sucesso desportivo (nuns casos menor - uma final da taça, uma qualificação europeia; noutros maior - uma prova ganha), justifica estes momentos de aflição, este sofrimento por partes dos adeptos fiéis que, vêem o seu clube do coração ser arrastado para batalhas judiciais, perdidas as batalhas no relvado, tornando-se as expressões "despromoção" e "fim do futebol profissional" lugares-comuns no nosso futebol?

(nos anos 80 e 90)
Campeonato Nacional: 2x 3º e 1x 2º
Taça de Portugal: 1x finalista e 2x vencedor
Supertaça: 2x vencedor
Taça UEFA: 9 participações - 1x QF
Liga dos Campeões: 1 participação

(entre 2000 e 2003)
Campeonato Nacional: 1x vencedor e 1x 2º
Supertaça: 1x finalista
Taça UEFA: 2 participações - 1x MF
Liga dos Campeões: 2 participações - 1x 2ªFG

(depois de 02/03)
Campeonato Nacional: 10º, 8º, 6º, 6º, 10º e 9º
Taça de Portugal: 1x MF

Deixando aqui o percurso do outrora "quarto grande", Boavista FC (sobre o tema leiam este post, do Nuno "Eskilo"), fica também uma pergunta: vão o Braga, o Nacional, o Belenenses e o Marítimo (quando o Jardim "fechar a torneira"), entre outros, pagar, a médio e longo prazo, a factura da sua ambição? Ou estão estes clubes livres dessa preocupação?

Para os adeptos, depois de assistir ao colapso financeiro e desportivo dos axadrezados, esta é, sem sombra de dúvida, uma questão de difícil resposta.

16 comentários:

João Tudela disse...

Se no que toca ao Marítimo, ao Nacional e ao Braga ponho a mesma dúvida que tu...quanto ao Belenenses não.

Não me parece que o Belém se adeque no perfil que traçaste para os clubes que ambicionam em demasia o sucesso não olhando para o futuro.

De qualquer forma, o post está extremamente oportuno, e por isso bastante agradável de se ler. Um grande abraço e daqui a dias ponho o meu próximo post.

Anónimo disse...

Grande Bernas, fizeste bem em postar sobre este assunto. Acho que essa última questão é bem pertinente, e que os tipos do Braga as vezes também se devem perguntar se quando o António Salvador sair da direcção do clube não se abrirá uma autentica fossa nas contas do clube? Com o Marítimo todos sabemos que isso vai acontecer, resta saber só quando é que o AJJ lhes retira o fundo por completo, ou sai do poder. Continuem a postar. Um abraço.

Anónimo disse...

Em relação ao Belenenses acho que, tal como a Académica, eles têm um passivo acumulado (o Belém até aprovou recentemente em AG o pedido de um empréstimo enorme para controlar as contas) e que das 2as uma ou apanham uma direcção séria que controla aquilo ou, correndo os riscos do costume, tentam sobreviver acima das suas capacidades. Sem querer ser parcial acho que os tipos do Restelo já tiveram para descer uma ou duas vezes, e que, excepto os Vitórias, os PME’s (como os apelidaste), não têm capacidade para continuar a fazer este estilo de gestão. Mas calculo que isso seja mesmo assim com todos os clubes da 1ª divisão.

Anónimo disse...

Bom post, escolheste bem o tema.
Parabéns aos 3 do futsal.

Unknown disse...

Olá! Eu sou um novo visitante para o seu blog.
Você tem um bom blog aqui!

Anónimo disse...

Voltam a postar, voltam os comments. Continuem com isto.

Acerca do comentário do Sr. João Tudela, acho que é possível acrescentar o Belem a esta lista mesmo concordando consigo na parte da ambição. Acredito no entanto que de todos os clubes referidos este é o quetem mais probabilidade de se safar e de escapar a esta tendencia portuguesa.

Cumprimentos.

João Tudela disse...

Ao ultimo anonimo. Sim tem razao, sao conhecidos os problemas financeiros do Belenenses, mas lá está. Eu estava apenas a referir-me ao perfil do clube que dá tudo numa época e na época a seguir ve-se afundado em dividas por culpa de uma desmesurada ambição. Abraço

Bernardo Rosmaninho disse...

Em primeiro lugar, obrigado ao João por me ajudar com o texto e com a resposta aos comentários.

Que clube na liga portuguesa não possui problemas a nível financeiro? Mesmo os grandes estão constrangidos pela falta de dimensão do nosso mercado (futebol) e pela falta de recursos para competir com os clubes das outras ligas. Agora imagine-se o resto dos emblemas do campeonato.

A nossa segunda liga até é muito competitiva, mas apenas se não se fizer uma análise ao panorama das divisões secundárias dos outros países europeus.

Faltam-nos as infra-estuturas e o estilo de jogo que atraiam adeptos aos estádios. Sem estes dois elementos básicos, mesmo com (ou sem) ambição por parte das direcções, não há muito a fazer, visto que um clube não se consegue aguentar, financeiramente, depois, mais tarde, desportivemente, sem que a dívida se acumule e leve, eventualmente, a este (ou outro mais leve) tipo de situações.

Bernardo Rosmaninho disse...

PS: O Tudela foi o primeiro a saber do tema do texto - eu preocupo-me muito em manter os meus posts simples e sem afirmações ou ideias que não consiga sustentar e acredite - eu agradeço-lhe porque, numa altura de enorme bloqueio, foi ele que me ajudou a acabar o texto, afastando-me dele. Um abraço.

Bernardo Rosmaninho disse...

Em relação aos comments do Paulo e do Sr. Anónimo acho que importa salientar que o escalonar financeiro dos clubes não corresponde ao historial do mesmo e muito menos ao desempenho (actual) das respectivas equipas.

No plano económico, depois dos 3 grandes, estão o Guimarães, o Braga e os dois clubes insulares, o Nacional e o Marítimo (por razões acima explicadas).

O Belenenses, a Académica e o Vitória de Setúbal são três históricos, verdadeiros resistentes do nosso futebol que embora tenham dividas e algum passivo, possuem património e condições para, no futuro, com dirigentes de (alguma) qualidade, apanharem o comboio dos dois clubes do norte.

Abaixo destes, encontram-se Naval, Leixões e Paços de Ferreira, que estão numa situação minimamente estavel, relegando assim a Amadora, o Leiria e o Boavista para o fim deste "campeonato" por razões já de todos conhecidas.

Perdoem-me se fiz, em comment, uma radiografia do estado dos clubes da bwin Liga deste ano, no plano económico, mas queria que pudesse comparar este escalonamento ao feito pelo desempenho das equipas na prova e ao seu historial (para este aspecto consultem o post do Eskilo que sugeri no meu texto original), proporcionando assim aos leitores um melhor entendimento das conclusões a que chego no meu post. Um abraço a todos e obrigado.

Anónimo disse...

O Belem não acaba! Muita protegido pelo sistema, nem sequer descem!

Tomás Silveira Machado disse...

Todos os dias se fala em formação de jogadores, cada vez mais ouvimos e somos confrontados com esta expressão que tem um alcance enorme... Eu acho que este é um problema que atravessa o futebol português de um extremo ao outro, a falta de infra-estruturas e capacidade para criar e formar novos jogadores, transforma-los em activos e ganhar dinheiro através das suas vendas, e que se calhar seria um enorme balão de oxigénio para todos estes emblemas que infelizmente vivem/sobrevivem muito acima das suas capacidades, criando e caindo em situações irreversíveis como aparenta ser a do Boavista.

Sinceramente não consigo perceber como é que clubes como o Braga, sem qualquer tipo de resultado desportivo que o sustente, consegue contratar e construir um plantel com os jogadores de que actualmente dispõe... De onde é que vem o dinheiro??

A par ou antes da formação de jogadores por parte dos clubes ou qualquer outra medida, acho que aquilo que é mesmo gritante que aconteça no futebol português é uma reestruturação ao nível dos dirigentes tanto dos clubes como da Federação, como não aparenta que tal irá acontecer, temo que este tipo de episódios com maior ou menor frequência tornem a suceder assim como a miséria em que se encontra o futebol em sentido amplo no nosso país...

Bernardo Rosmaninho disse...

De onde é que vem o dinheiro?
Essa é uma pergunta que eu continuo a fazer a mim próprio...

Droga, ilegalidades nas contas, negócios paralelos, comissões nas transferências não discriminadas?
Estes são apenas alguns exemplos numa longa lista de possibilidades (que já ocorreram num ou noutro clube, com um ou outro dirigente, cá em Portugal) que me ocorre percorrer quando penso numa resposta a esta pergunta.


A formação como meio de melhorar a qualidade de um plantel e aumentar o nível geral das capacidades dos jogadores é algo que, cá em portugal, ninguém faz.

Os espanhóis fazem-no e é por isso que, de tempos a tempos, nos vão dando uma coça nas várias selecções jovens, que apresentam, sem falta, uma qualidade fantástica e resultados notáveis.

No nosso país os miúdos com qualidades são vendidos e explorados até ao limite do seu valor (por vezes hiperbolizado por dirigentes sedentos de mais uma venda choruda).

O Porto fez, com sucesso, do seu plantel, um autentico entreposto para compra e venda, inflacionando claramente o valor do jogador no momento da venda. É outro meio de fazer receitas, mas apenas o FCP o fez com verdadeiro sucesso.


O que nos remete de volta para a grande questão? De onde vem o dinheiro destes clubes?

A formação correcta de jogadores (e o recorrer á obtenção de infra-estruturas de alta qualidade que a suportem) são imperativos do desenvolvimento e manutenção de um futebol saudável, algo que a classe dirigente dos clubes nacionais há muito que impede, tendo apenas aproveitado, em casos pontuais, o Euro 2004, para melhorar as condições do clube e criar, em 2/3 casos, uma academia. Exemplo destes casos é o da França.


Por cá, enquanto esta geração de dirigentes não for completamente renovada, enquanto o dirigente desportivo continuar a ser inculto, populista e com uma enorme tendência para a ilegalidade, não vamos sair deste circulo vicioso que só não tem consequências mais graves para o nosso desempenho nas selecções porque o trabalho dos senhores Carlos Queirós, Jesualdo Ferreira, entre outros, na FPF, deixou marcas e teve resultados que ainda são visíveis e porque, graças a Deus, continuamos, de uma forma ou de outra, a gostar (de jogar) e a saber jogar bem á bola.

Bernardo Rosmaninho disse...

Grande comentário (obrigado) Tomás, e com muito sentido.
Já pedia um enorme post, este tema que levantaste (a formação).
Vários posts mesmo.

Um abraço.

Anónimo disse...

Depois de ter constituído a SAD,o Boavista FC,tinha à sua disposição 5 milhões de euros no imediato.Resgatou ao Braga o goleador Elpídio Silva por 1,1 Milhões e no ano seguinte foi buscar Luiz Cláudio e mais um outro jogador, que agora não me recordo que preconizou um investimento muito elevado para os cofres axedrezados,sem respectivo retorno,apesar de se ter sagrado campeão nacional no ano anterior.Depois deu como certa a sua participação na champions,bem como as receitas que lhe eram inerentes e investiu no plantel sob esse espectro.As contas saíram furadas pois na pré-eliminatória foi eliminado pelo O.LYON.As contas começaram a não bater certo, e juntando todas essas falcatruas ja conhecidas e faladas precipitou a queda de um histórico do futebol português.O Braga através das receitas da venda dos jogadores e aos demais patrocínios tem a estabilidade financeira para ter o plantel que tem.Saíram inúmeros jogadores para o Dínamo,para o Benfica,para o Sporting etc.
Bom post

Tomás Silveira Machado disse...

Eskilo, sou sincero, não conheço a fundo nem parcialmente a realidade financeira do braga... mas independentemente das vendas de jogadores como cesinha, rossato ou abel, não estou a ver com qual dinheiro pode este clube pagar salários e transferências de jogadores como: Linz, ex João Pinto, Jorginho, Andrés Madrid e recentemente Weldon entre outros.
Espero que não, mas temo que o Braga seja mais um clube a viver muito acima das suas possibilidades, liderado por um presidente que para "variar" está a construir (ou destruir) uma casa pelo tecto!!

Acho uma vergonha que estes clubes que vivem sem qualquer tipo de preocupação com a sua situação financeira, afundados em empréstimos e mais empréstimos, a dever dinheiro tanto à banca como aos seus jogadores não sejam severamente punidos, porque para além de serem uma fonte de instabilidade e problemas na vida daqueles que todos os dias trabalham e dão a cara por eles estão de uma forma bem clara a falsear a verdade desportiva e competição, que se quer igual e justa sem desvirtuamentos de realidades, onde uns podem tudo e outros honestamente pagam a factura de outros...

Ao contrário do que se diz,não acredito que este seja um problema a ocorrer de forma isolada em Portugal. Tb nas grandes ligas europeias e em clubes de grande dimensão existem problemas de endividamento, mas para esses clubes de uma forma ou outra existirão sempre soluções, exactamente porque como emblemas gigantes que são o dinheiro que desaparece acaba por "aparecer", algo que no nosso "campeonato" já não será tão fatal que aconteça.

* por emblemas gigantes falo no caso recente do Liverpool, que tem uma dívida para com a banca a rondar os 480 Milhões de euros, da qual todos os anos tem de obrigatoriamente de pagar 40M€, e do Real Madrid que conta com um passivo exorbitante, não sei de quanto ao certo, na sua realidade financeira.