domingo, 30 de março de 2008

Liverpool Football Club, a intermitente grandeza de um gigante.

"Entre 1959 e 1974 aprendemos a crescer com Shankly, tornamo-nos gigantes, donos do nosso destino e o centro de uma nação; entre 1975 e 1984 com Paisley, éramos imortais, conquistámos tudo o que existia para conquistar, donos de um mundo que era vermelho; depois de 1985, fomos esmagados - por uma final fatídica e por tantos mortos - por Heysel, por Hillsborough, pela década que passámos fora da Europa, pelo futuro, que chegou de forma brutal..."

A segunda parte da história deste clube começa em 1966 e vai até ao ano de 1985, contando a ascensão de um titã, o Liverpool, e a sua conquista da Inglaterra e da Europa, antes de ser parada de forma abrupta por aquela final contra a Juventus, arredada de qualquer futuro com o desastre de Hillsborough, condenando o emblema, tal como o futebol inglês, a remodelar-se e... a renascer das cinzas.

1966 - 1974, O fim de um ciclo.

Em 1972, após uma curta travessia no deserto (apenas um 2º lugar na Liga em 68/69), originada por uma nova reconstrução na equipa, o Liverpool, afastado dos títulos desde o campeonato de 1966, começou um percurso diferente, visando o ataque á Europa, impondo o futebol dos 'reds' nas suas competições e restaurando a sua primazia a nível interno. Assim, onde dantes encontrávamos o defesa (e capitão) Ron Yeats e os avançados Roger Hunt e Ian St.John (o primeiro marcou 245 golos com a camisola vermelha só no campeonato - ainda hoje um recorde do clube) como principais referências de um plantel, agora tínhamos uma nova geração de jogadores, sedentos de conquista, mas onde ainda actuava Tommy Smith, assegurando a transição e comandando o meio campo do conjunto.
Foi exactamente essa equipa que conquistou o primeiro troféu europeu do clube (até então o clube apenas tinha chegado a uma meia final europeia - na Taça dos Clubes Campeões Europeus de 64/65), ao ganhar a Taça UEFA de 72/73, derrotando na final o Borussia Mönchengladbach e vingando a final da Taça das Taças perdida em 1966 contra outro Borussia, o de Dortmund, que assim adiou por mais uns anos esta primeira vitória.

Com mais duas ligas, a desse ano e a do ano seguinte, 73/74 e com a segunda vitória do clube na Taça de Inglaterra, tudo na mesma temporada, a equipa voltava ao topo e, Bill Shankly, o seu treinador principal, após duas décadas á frente do plantel, depois de revolucionar toda uma cidade e um clube, galvanizando uma massa humana enorme (que ele apoiava e acarinhava - chegava ao extremo de responder ás cartas dos adeptos, oferecer bilhetes e discutir com os adeptos que se lhe dirigiam questões relacionadas com a equipa ou o jogo anterior) levando-o aonde ele nunca tinha chegado, apresentou a demissão, retirando-se do futebol e apontando deixando o seu adjunto (que ocupava o cargo desde a sua primeira época no Liverpool), um indivíduo introvertido e reservado, como seu sucessor.
Esse homem, que tinha agora esta tarefa monumental, iria levar o Liverpool aos melhores momentos da sua história, conquistando o Clube, a Inglaterra e a Europa do futebol. No fim da temporada de 1973/1974 Bob Paisley, o fiel escudeiro de tantos anos, substituiu "Shanks" no comando da equipa técnica da equipa sénior. Começava a era dourada do clube de Merseyside.

1974 - 1983, Supremacia.

"Um Homem vulgar de invulgar grandeza", foi assim que descreveram o treinador que em nove anos apenas não conseguiu vencer uma taça, a de Inglaterra (teve 1 final perdida), trazendo para o clube um total de 6 Campeonatos (ficando por duas vezes em 2º), 3 Taças da Liga (1 final perdida), 5 Supertaças (uma 'Charity Shield' perdida), 1 Taça UEFA, 1 Supertaça Europeia (1 final perdida), 1 Taça Intercontinental e, mais importante, 3 Taças dos Clubes Campeões Europeus, duas delas seguidas. Foram 20 troféus e 17 finais, num registo que, até hoje, só foi superado por Sir Alex Ferguson, tratando-se ainda do melhor pecúlio alguma vez conquistado por um "manager" oriundo da Grã-Bretanha. Faltou-lhe o 'Treble', que esteve para conquistar em 1976/77 (Taça dos Campeões, Liga e Taça de Inglaterra), perdendo a taça inglesa para o Manchester United. Em tão pouco tempo e com tanta qualidade nunca ninguém tinha feito ou voltou a fazer o mesmo. Pelo menos até aos nossos dias.

Não foram só títulos, aquilo que Bob Paisley deu ao clube. Este filho de um mineiro, que trabalhou 44 anos seguidos em Anfield, formou equipas vencedoras, descobrindo e contratando jogadores de enorme qualidade que lhe permitiram chegar ao sucesso. Tratando-se de uma pessoa dotada de uma enorme visão e sabedoria, soube preparar o clube para o futuro salvaguardando o presente, evitando que, quando saísse do seu cargo, a onda vitoriosa que tinha dominado por uma década o futebol inglês e europeu desaparecesse. Algo que conseguiu.
Com uma presença diferente do seu predecessor, mais discreta mas mesmo assim incisiva quando era preciso (precisamente o caso quando, perante uma exibição fraca de Alan Kennedy na sua estreia afirmou: "Uma coisa vos digo: mataram o Kennedy errado!"), Paisley pegou na equipa campeã de 1974 e levou-a ao seu primeiro triunfo na principal prova europeia de clubes em 1976/77, consagrando jogadores como Tommy Smith, o guarda-redes internacional Ray Clemence, o galês John Toshack e, em especial, Kevin Keegan, o avançado cujo maior receio na vida era de falhar um golo de baliza aberta em frente á Kop, a mítica bancada de Anfield Road, que Shankly tinha tornado o coração do clube. Tal era a força dos adeptos do Liverpool.
O inglês autodidacta (estudou por iniciativa própria vários assuntos, como por exemplo, fisioterapia, assistindo na perfeição o seu antecessor nesse campo), numa manobra soberba, após a conquista desse ano (vencendo em Roma - de novo - o Borussia Mönchengladbach), trocou Keegan por um jogador do Celtic de que muitos temiam não ser capaz de substituir o mítico camisola 7, Kenny Dalglish. Estava contratado o melhor jogador da história do clube, avançado prolífico e homem providencial para o grupo nos momentos difíceis que estavam para vir...

Juntamente com outro escocês, Graeme Souness, e com a base da equipa campeã europeia, o clube conseguiu manter a sua hegemonia até ao fim dessa década e início da seguinte, agraciando o palmarés do clube, por entre tantas outras conquistas, com a sua segunda (a 77/78) e terceira (em 80/81) Taças dos Campeões Europeus. Chegava ao fim o percurso do treinador inglês mais bem sucedido de sempre. Quando em 1983, Bob Paisley passou a director em Anfield, retirando-se calmamente, o clube continuou, apoiado numa estrutura sólida e na excelência da bootroom, na senda do sucesso, tal como ele sempre quis.

1983 - 1985, Crepúsculo.

O ocaso dos 'reds', comandados, numa primeira fase, por Joe Fagan, outro técnico vindo da bootroom, escreveu-se com Campeonatos (entre 1979 e 1984 só por uma vez o Liverpool não foi campeão) e Taças, quer estas fossem da Liga (quatro seguidas, entre 80 e 84), de Inglaterra ou dos Clubes Campeões Europeus (em 83/84, derrotando na final a AS Roma, nos penalties). No entanto, estas conquistas nunca teriam sido possíveis se a prospecção do clube não tivesse descoberto, ainda pela mão de Paisley, jogadores como o mítico goleador do País de Gales, Ian Rush (o melhor marcador de sempre do clube, com 346 golos), e Bruce Grobbelaar, que veio susbtituir (eficazmente) o veterano guarda-redes Ray Clemence. Ao vencerem a AS Roma de Falcão, naquela final de 1984, esta equipa provou ser capaz de continuar a vencer, misturando, como a geração anterior havia feito, novos elementos com uma base já habituada ás vitórias.
O mal que teve em Heysel, para o grande público, o seu violento despertar, e que causou a queda do emblema do norte de Inglaterra do topo da senda europeia e mundial não era exclusivo de um determinado clube ou região mas sim nascido entre os britânicos e, posteriormente e progressivamente, exportado para a Europa. O hooliganismo, já era, á data de 29 de Maio de 1985, dia do seu evento de maior expressão, um fenómeno que corroía, havia uma década, o futebol europeu. Até essa trágica final, o futebol inglês tinha tido, em termos de clubes, (quase) duas décadas simplesmente fantásticas. Entre 1970 e 1985 os clubes ingleses acumularam 18 vitórias (7 TcCE, 5 TU, 3 TdT e 3 ST) e 10 finais (perdidas) nas provas organizadas pela UEFA.

Depois da tragédia de Heysel viria a mudança, primeiro sobre a forma de castigo, imposto pela organização que tutela o futebol europeu (interdição de cinco anos para os clubes ingleses, dez para o Liverpool), e só depois, cinco anos depois, com o desastre de Hillsborough, na meia-final da Taça de Inglaterra de 1988/89 (onde 96 pessoas, a sua grande maioria fãs dos 'reds', morreram), como remodelação. Do futebol inglês, dos clubes, do Liverpool, que apesar de continuar a dominar no plano interno perdeu a aquela que foi a melhor ocasião da sua existência para se elevar a patamares inigualáveis a nível europeu. Passava a oportunidade, entrava o clube em declínio...

(Fim da segunda parte)

sábado, 22 de março de 2008

A (in)evitável saída de Camacho.

"O Benfica tem uma boa equipa mas o Porto está mais forte. No Benfica a pressão é enorme, mas eu acho que o SLB com mais tranquilidade pode, no futuro, destronar o FCP e lutar com o SCP.
Acho que (quando fomos campeões) tivemos um pouco de sorte, mas tinhamos jogadores muito bons, que acreditavam na minha mentalidade e método. Quando os jogadores acreditam num treinador pode-se fazer muito. Estou muito grato aqueles jogadores. No fim dessa época a continuidade não estava garantida para a temporada seguinte. Havia muitas dúvidas."

Giovanni Trapattoni, Março de 2008.



Neste post gostava de abordar as razões pelas quais a turma da luz ficou sem o seu treinador poucos meses depois deste ter assumido funções e explicar porque acho que esta saída podia ter sido evitada. Mas antes de o poder fazer queria regressar ao fim da primeira passagem do treinador pelo clube, em 2003/2004.

No fim dessa temporada as 'águias', lideradas pelo treinador de Múrcia, conquistaram a Taça de Portugal ao Porto e ficaram em 2º lugar no Campeonato, atrás dos 'dragões'. O clube tinha uma equipa sólida mas que não tinha soluções no banco. O talento do 11 inicial, porém, era grande, e o timoneiro da equipa sempre alertou para a necessidade de se manterem os elementos fulcrais de um plantel que, no futuro, podia, com alguns retoques, vir a ser campeão. Com uma direcção por detrás dele e com a massa associativa a apoiar a equipa, a verdade é que este conjunto foi, em 2004/2005, com outro treinador (o grande Giovanni Trapattoni) mas com a mesma base, campeão nacional.

O que mudou então para que Camacho, uma figura quase messiânica para os adeptos benfiquistas, tenha tido, nesta sua segunda incursão ao ninho da luz, tão maus resultados?

As condições em termos de logística eram muito melhores (o SLB, graças ao novo estádio e á Academia do Seixal já não andava "com a casa ás costas"), o clube estava melhor (pelo menos segundo o Presidente) financeiramente e José Veiga (visto por muitos como um elemento negativo na estrutura 'encarnada') já não estava na direcção. Num primeiro olhar, excluindo equipa técnica e jogadores, tudo estava bem melhor.

Mesmo no que diz respeito aos dois últimos pontos, da sua equipa técnica só saiu Álvaro Magalhães, que foi substituído por Chalana tendo transitado para esta época os restantes treinadores; no que toca á composição do plantel sénior, é verdade que muito mudou posto que o clube já só tem, do núcleo duro do antigo plantel, Luisão, Petit, Nuno Gomes e Moreira (sendo que o guarda-redes e o avançado não são, por motivos diferentes, escolhas indiscutíveis dos treinadores que passaram pelo emblema até aqui), no entanto, não acho que isso seja motivo suficiente para que o actual conjunto do SLB passasse "de bestial para besta" ou fosse simplesmente considerado como mau.

Vejo (pelo menos) três motivos que justificam o mau rendimento desta equipa, motivos esses que irei de seguida enunciar:

1º - O conjunto perdeu nas épocas que antecederam a temporada 2007/2008, todas ou quase todas as suas pedras-chave, ficando obrigado todos os anos a reconstruir um plantel, apostando em novos jogadores (de quem se espera sucesso imediato) e estando, na temporada em questão, dependente de elementos que, por motivos óbvios, não podem ser o "abono de família" de nenhuma equipa que queira ter futuro (falo de Rui Costa, contrapondo-o com Simão Sabrosa, por exemplo).

2º - O clube mudou de treinador no início da temporada (uma escolha discutível mas que não quero abordar agora), voltando a trazer Camacho sem que ele pudesse fazer qualquer tipo de pré-época, escolher com algum tempo o plantel e efectuar (com resultados visíveis) mudanças ao jogo, composição ou estratégia do 11 benfiquista. Ninguém consegue, sem que exista alguma base para trabalhar, fazer milagres. Não existindo margem de manobra e paciência nem o melhor treinador do mundo pode pegar num conjunto que ainda não o é e fazer dele uma máquina vitoriosa.

3º - O Benfica não tem, nem nunca teve (pese embora o momento fantástico que 'Trap' proporcionou aos fãs da equipa) uma estrutura directiva capaz de transmitir organização, disciplina e segurança aos jogadores. A faceta autoritária de José António Camacho e a dupla supervisão que LFV e José Veiga faziam são pálidas sombras do rigor e trabalho que outros clubes, a começar pelo Futebol Clube do Porto, impõem aos seus planteis.

Nota: A decisão do Presidente de "promover" Rui Costa como futuro director quando ele ainda é jogador é errada e não beneficia o conjunto, minando o trabalho de qualquer treinador (presente ou futuro) já que este terá que treinar um jogador que, hipoteticamente, a nível hierárquico, está acima dele.

Focados que estão estes motivos é verdade que até compreendo porque me dizem que, já que o treinador espanhol não conseguia fazer mais pela equipa, agia correctamente ao ir embora. Eu simplesmente não concordo com esta afirmação, mesmo tendo em conta que o próprio disse que ninguém insistiu para que continuasse no cargo.


Acho que ao Sport Lisboa e Benfica falta continuidade, disciplina, trabalho e muita, muita paciência. Não sei se o técnico murciano seria capaz de fazer algo deste plantel mas creio que enquanto não se pegar no exemplo de outros clubes e apostar a sério na formação, usando o dinheiro dos prémios para reforçar o salário das peças fulcrais dos seniores (mantendo-as) e uma ou duas contratações cirúrgicas, este emblema não vai conseguir ombrear, no campeonato e nas provas europeias, com os restantes clubes da sua dimensão.

Até lá, todos os seus treinadores, mesmo que consigam trazer momentos fugazes de glória, não conseguirão nunca "passar o testemunho", correndo sempre o risco (em caso de insucesso) de se verem "queimados" por uma conjuntura e um congregar de circunstâncias que não permitem nem facilitam (antes pelo contrário) a correcta execução do seu trabalho.

sábado, 15 de março de 2008

Hope



Por se tratar de um caso excepcional e por estar relacionado com o tema deste último post do João, decidi, com o acordo dele, colocar aqui um video simplesmente fantástico, um nosso velho conhecido... "Hope - a tribute to the strong of mind in football". Bom fim-de-semana.

segunda-feira, 10 de março de 2008

A problemática do "4º Grande".


A querela a propósito deste assunto vem arrastando-se á décadas com vários clubes - Boavista, Belenenses, Académica, Braga e Vitória de Guimarães a proclamarem como o “4º grande”. No caso dos dois primeiros trata-se de uma pretensão genuína pois para alem de serem crónicos candidatos ao título, são os únicos a terem um título de campeão nacional, em 2000/2001 e 1945/1946, respectivamente. Já os outros clubes pautam-se por títulos secundários.
Existe, na minha óptica, vários critérios a ter em conta na hora de esclarecer quem é de facto o "4º Grande": títulos, palmarés, posição na UEFA, número de sócios, percurso nas demais competições, mística, entre outros.
No total de títulos, o Boavista surge na quarta posição, com 1 título de Campeão Nacional, 5 Taças de Portugal e 3 Supertaças. Logo de seguida aparece o Belenenses com 1 título no Campeonato e 6 Taças de Portugal. Tanto o Braga como a Académica apenas lograram conquistar 1 Taça de Portugal. Por fim o Vitória SC conta somente com 1 Supertaça Candido de Oliveira.
Se considerarmos o ranking da UEFA, o Boavista também está em primeiro, no 90º posto, sendo o 96º o SC Braga, o 119º o Vitória de Guimarães e o 129º o Vitória de Setúbal. Numa primeira análise tanto no plano interno como no europeu o Boavista ganha vantagem em relação aos demais, mas a história de um clube não se resume apenas ao historial ou ao seu palmarés. Esta engloba e personifica toda uma mística, um sentimento no qual ”só o vivido é compreendido”, o seu simbolismo e dimensão no meio onde está inserido e a meu ver os 29.000 sócios Vimaranenses põem o clube na retaguarda dos 3 grandes.
Sob a égide “Uma cidade, um clube, uma paixão”, o Vitória SC traduz toda uma mística, que excluindo a Luz, Dragão ou Alvalade, não existe noutro estádio do país, oferecendo momentos inesquecíveis, que embelezam o futebol e deixam orgulhosos todos os seus intervenientes, tal como o afamado cordão humano na recepção ao Benfica, quando lutava desesperadamente pela permanência, entre outros.
Completando um confronto com o Boavista, este tem 17.500 associados, enquanto que o Belenenses soma 18.200. Mais acima, mas ainda atrás do Vitória de Guimarães, estão a Académica com 21.000 e o SC Braga com 20.000. Ora o numero de sócios, independentemente dos restantes critérios denota bem a grandeza de um clube e nesse campo o Vitória não deixa margem para dúvidas.
Devido à constante mudança temporal e ás vicissitudes que uma primeira liga acarreta a problemática do “4º grande” será sempre discutível, pois se na década de 40 e seguintes esse clube era o Belenenses, e não há muito tempo era o Boavista que podia reclamar esse título, quem poderá prever o "grande" do futuro? Pois bem, reportando-nos ao presente, creio que o VITÓRIA SC alberga condições para se afirmar como esse clube, o "4º Grande".

sábado, 8 de março de 2008

Liverpool Football Club, a intermitente grandeza de um gigante.

"Todas as histórias começam de forma diferente. Por um motivo ou outro, por paixão ou desentendimento, por amor ou ódio, por necessidade comum de muitos ou vontade determinada de um, todos os clubes de futebol surgiram de alguma forma, sempre diferente. E por detrás desse momento, da fundação de um gigante, podemos encontrar quase sempre uma personalidade e um espírito que ficam para sempre na nossa memória."

Este é o primeiro de três posts sobre a história de um clube que é mais do que um tributo á vontade e ao espírito solidário de muitos, é um exemplo fidedigno do percurso e das características do futebol inglês. Este é, ao mesmo tempo, brilhante e terrível, encontra-se repleto de grandes vitórias e de enormes desilusões, alberga o talento de jogadores, treinadores e dirigentes, capazes do melhor e do pior, tal como os fãs e adeptos, que marcaram épocas e formas de ver o desporto em terras de Sua Majestade. Esta é a história do Liverpool Football Club.

Março de 1892, A Fundação.

Se no Benfica existiu Cosme Damião, em Barcelona Joan Gamper, o Liverpool teve em John Holding (uma figura controversa, homem de negócios, futuro deputado do Partido Conservador e Mayor da cidade) o seu líder fundador.

John Holding, que era o proprietário do terreno onde o Everton jogava, Anfield Road, abandona os 'toffees' em ruptura com a direcção que presidia desde 1882. No dia 15 desse mês, ele e 19 outros sócios do clube que se tinha mudado para Goodison Park, formam o Liverpool Football Club. Após uma tentativa inicial (falhada) de roubar ao nome do rival, o conjunto recém-formado abandona o azul e adopta o vermelho da cidade como cor a 1894 e insere o liverbird, ave mitológica, no seu emblema no ano de 1901.

Começou assim a história de um dos maiores clubes do mundo, o maior de Inglaterra, que na sua primeira equipa não tinha um único inglês e que deve a John McKenna (um irlandês) o facto de no verão de 1893 ter entrado na Football League. Antes dessa entrada decisiva (i.e. durante a época de 1892/93) os 'reds' apenas puderam participar na Taça de Liverpool e na Liga do Lancashire, vencendo ambas.

O primeiro título no principal Campeonato surge a 1901, com o clube a ser liderado por Tom Watson, outra figura fundamental nas primeiras décadas deste. Até ao fim da década de 50, o emblema de Merseyside teve como grandes referências o guarda-redes Elisha Scott e o atacante Billy Liddell, que foi contratado por sugestão de um tal de Matt Busby, então capitão de equipa e futuro treinador do Manchester United, formando uma formidável geração de jogadores e levando-os á conquista da Taça do Clubes Campeões da UEFA, naquele que foi o primeiro título europeu de um clube inglês.

Nesta primeira fase, o clube angariou fãs e troféus, rapidamente ultrapassando em popularidade o seu rival de sempre Everton FC. Mesmo assim, o seu apogeu ainda estava para vir, com a chegada ao clube, em 1957, de um homem que revolucionaria o futebol de Anfield e que o colocaria no topo da nação futebolística, preparando-o para o ataque á Europa. Esse homem era Bill Shankly.

1957 - 1965, Desenvolvimento.

Bill Shankly chegou ao Liverpool em 1959. Homem de filosofia simples e convicções fortes, a sua acção revolucionou todo o clube, forçando uma melhoria nas condições de treinos, fazendo os jogadores viajarem sempre juntos, minimizando as lesões e controlando a sua condição física e alimentação, enquanto remodelava a equipa principal, submetendo-a ao seu método.

Este podia resumir-se a uma forma nova de abordar o comportamento da equipa, exigindo desta uma enorme entreajuda e colaboração, praticando depois um futebol prático, apoiado, de passe e corrida, com um jogador a proteger o outro atacando todos o mesmo objectivo. Assim, quando um membro da equipa estava a jogar mal, Shankly mantinha-o a jogar até que os colegas o ajudassem. Aquilo que o treinador definia como "ética socialista" era algo perceptível para o público de Anfield Road, que se revia neste estilo, liderança e atitude.

Os resultados não tardaram a chegar. Em duas temporadas, o clube regressa á Primeira Divisão, conquistando-a ao rival Everton em 1964. Em 1965 os 'reds' vencem a sua primeira Taça de Inglaterra e em 1966, com apenas 14 jogadores, voltam a ser campeões. O país era vermelho, a beatlemania ajudava e o clube estava em crescendo. Mais do que as vitórias, com Shankly o que mudava era a mentalidade e a atitude com que se abordava o jogo e o confronto com os adversários.

Certo dia, o treinador mandou colocar uma placa no acesso ao campo onde se lia "Aqui é Anfield". Questionado sobre o porquê deste acto, a resposta surge, incisiva: "Quero recordar aos nossos por quem estão a jogar e aos outros quem vão enfrentar. O fogo nas nossas entranhas vem do orgulho e da paixão de vestir a camisola vermelha. O estatuto de jogador do Liverpool mantém-nos motivados.".

Afirmações destas reforçam o espírito vencedor que o escocês quer implementar. Ele trata de o resumir da seguinte forma: "Muito do sucesso no futebol está na cabeça. Temos de acreditar que somos os melhores e depois asseguramo-nos de que o somos. Temos as duas melhores equipas do Merseyside, o Liverpool e os Reservas do Liverpool.".

Jogadores como Tommy Smith, "The Anfield Iron", que veio dos juvenis até aos seniores, jogando pelos últimos 637 vezes, dão corpo a este sentimento, a esta dedicação e ao esforço que era pedido, em prol do clube e do colectivo.

No entanto, mais do que o carácter ou conhecimentos de futebol, a grande dádiva deste treinador ao clube inglês foi a criação de uma pequena sala, um cérebro, um espaço onde se guardavam os equipamentos e onde só os escolhidos entravam, a bootroom. Esta surge aquando da remodelação que Bill Shankly faz quando chega ao clube e representa um esforço no sentido de aproveitar a sabedoria existente no corpo técnico do Liverpool. Na bootroom falava-se de futebol, respirava-se o desporto em todos os seus aspectos, num ambiente selecto que assegurava a transição de uma cultura de jogo, de um conjunto de princípios que assim se perpetuavam. Durante 30 anos seria aqui que o treinador sénior seria escolhido.

E foi assim que, durante as duas décadas seguintes, o Liverpool conquistou praticamente todos os grandes títulos. As décadas de 70 e 80 seriam as décadas de todas as conquistas... O júbilo que antecederia o desastre...

(Fim da primeira parte)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Chegou a hora!

Li no jornal Record hà uns dias um artigo engraçado e bastante oportuno sobre o jogo desta noite do F.C. Porto frente ao Shalke 04, o título era a “Hora J”.
Em poucas linhas Rui Santos definia este jogo como o mais importante desta época para o Porto, sem dúvida, e como o segundo mais importante para Jesualdo Ferreira desde que havia chegado ao clube, logo após o jogo que ditou vitória frente ao Desportivo das Aves e a consequente conquista do campeonato na época passada. Para o autor, esse terá sido o momento mais importante de Jesualdo desde que é treinador do Porto.


Sinceramente concordo com o artigo que Rui Santos escreveu, chegou definitivamente o momento de Jesualdo Ferreira se afirmar como treinador do F.C. Porto, como líder e verdadeiro homem forte daquela equipa, capaz de estar à altura do desafio! O Porto, por muito que me custe admitir, já não é mais uma equipa do campeonato nacional que chega à “champions” com relativa facilidade e que, com a mesma facilidade acaba por ser eliminado ou na fase de grupos ou, numa “boa época”, nos oitavos de final… Este é um Porto fruto de um trabalho de uma direcção realmente fortíssima que criou de facto as infra-estruturas necessárias (clube/equipa) para que fosse construída uma equipa muito forte muito competitiva que não tem o seu ponto forte nas individualidades mas antes na estrutura, e assim começa a exigir-se a este clube (e bem) que cada vez mais apareça, se mostre e lute com os mais fortes da Europa do futebol.

Estamos um pouco para lá da metade da época e a equipa de Jesualdo tem realmente demonstrado estar à altura dos desafios, no campeonato é líder com 12 pontos de vantagem para o segundo lugar, está presente nas meias-finais da taça, e na grande prova onde todos querem brilhar, a UEFA Champions League está então nos oitavos de final, tendo perdido a primeira mão fora por 1-0 para o Schalke tendo chegado o grande dia, onde os pupilos de Jesualdo terão de demonstrar que não fazem só boas exibições contra as equipas medíocres do nosso campeonato e que o primeiro lugar alcançado na fase de grupos da liga dos campeões não foi obra do acaso! É injusto julgar um treinador, uma equipa por um jogo, por uma eliminatória? Talvez… mas tal como dizia Bernardo Rosmaninho: “As grandes equipas não surgem nos pequenos jogos, contra emblemas pequenos ou médios, surgem nos grandes desafios, naqueles dias imemoriais em que nos juntamos todos contra uma só força, igual ou maior que a nossa, convictos de que, acima de tudo, vamos vencer.” E se ninguém dúvida que o porto é uma grande equipa ou um grande clube, ainda muitos não estão convencidos que Jesualdo Ferreira seja o homem certo para conduzir o emblema do azul e branco ao lugar que lhe é devido.
Se no ano passado o facto de terem jogado muito bem nas duas mãos e o adversário ter sido o Chelsea de Mourinho de certa forma conformou a maioria dos adeptos com a derrota na prova, este ano ninguém esperava ser afastado pelo Schalke, não deixa de ser uma equipa muito forte, rápida no ataque, sólida na defesa, fisicamente superior, talvez actualmente bem mais complicada de ultrapassar do que muitos emblemas gigantes ainda em prova, mas Jesualdo Ferreira a meu ver, talvez injustamente, já não tenha desculpas ou margem de erro a seu favor, chegou de facto a “hora J”, o Porto tem de passar o Schalke e esta equipa, esta desvantagem, esta eliminatória terão de ser vencidas…

Peço desculpa por colocar o post tão em cima do jogo, mas independentemente desta falha minha, após conhecerem o resultado comentem, não só esta eliminatória mas também a situação do Porto e de Jesualdo nestas duas arenas de batalha – Campeonato e Liga dos Campeões.