"Um Homem vulgar de invulgar grandeza", foi assim que descreveram o treinador que em nove anos apenas não conseguiu vencer uma taça, a de Inglaterra (teve 1 final perdida), trazendo para o clube um total de 6 Campeonatos (ficando por duas vezes em 2º), 3 Taças da Liga (1 final perdida), 5 Supertaças (uma 'Charity Shield' perdida), 1 Taça UEFA, 1 Supertaça Europeia (1 final perdida), 1 Taça Intercontinental e, mais importante, 3 Taças dos Clubes Campeões Europeus, duas delas seguidas. Foram 20 troféus e 17 finais, num registo que, até hoje, só foi superado por Sir Alex Ferguson, tratando-se ainda do melhor pecúlio alguma vez conquistado por um "manager" oriundo da Grã-Bretanha. Faltou-lhe o 'Treble', que esteve para conquistar em 1976/77 (Taça dos Campeões, Liga e Taça de Inglaterra), perdendo a taça inglesa para o Manchester United. Em tão pouco tempo e com tanta qualidade nunca ninguém tinha feito ou voltou a fazer o mesmo. Pelo menos até aos nossos dias.
Não foram só títulos, aquilo que Bob Paisley deu ao clube. Este filho de um mineiro, que trabalhou 44 anos seguidos em Anfield, formou equipas vencedoras, descobrindo e contratando jogadores de enorme qualidade que lhe permitiram chegar ao sucesso. Tratando-se de uma pessoa dotada de uma enorme visão e sabedoria, soube preparar o clube para o futuro salvaguardando o presente, evitando que, quando saísse do seu cargo, a onda vitoriosa que tinha dominado por uma década o futebol inglês e europeu desaparecesse. Algo que conseguiu.
Juntamente com outro escocês, Graeme Souness, e com a base da equipa campeã europeia, o clube conseguiu manter a sua hegemonia até ao fim dessa década e início da seguinte, agraciando o palmarés do clube, por entre tantas outras conquistas, com a sua segunda (a 77/78) e terceira (em 80/81) Taças dos Campeões Europeus. Chegava ao fim o percurso do treinador inglês mais bem sucedido de sempre. Quando em 1983, Bob Paisley passou a director em Anfield, retirando-se calmamente, o clube continuou, apoiado numa estrutura sólida e na excelência da bootroom, na senda do sucesso, tal como ele sempre quis.
O ocaso dos 'reds', comandados, numa primeira fase, por Joe Fagan, outro técnico vindo da bootroom, escreveu-se com Campeonatos (entre 1979 e 1984 só por uma vez o Liverpool não foi campeão) e Taças, quer estas fossem da Liga (quatro seguidas, entre 80 e 84), de Inglaterra ou dos Clubes Campeões Europeus (em 83/84, derrotando na final a AS Roma, nos penalties). No entanto, estas conquistas nunca teriam sido possíveis se a prospecção do clube não tivesse descoberto, ainda pela mão de Paisley, jogadores como o mítico goleador do País de Gales, Ian Rush (o melhor marcador de sempre do clube, com 346 golos), e Bruce Grobbelaar, que veio susbtituir (eficazmente) o veterano guarda-redes Ray Clemence. Ao vencerem a AS Roma de Falcão, naquela final de 1984, esta equipa provou ser capaz de continuar a vencer, misturando, como a geração anterior havia feito, novos elementos com uma base já habituada ás vitórias.
Depois da tragédia de Heysel viria a mudança, primeiro sobre a forma de castigo, imposto pela organização que tutela o futebol europeu (interdição de cinco anos para os clubes ingleses, dez para o Liverpool), e só depois, cinco anos depois, com o desastre de Hillsborough, na meia-final da Taça de Inglaterra de 1988/89 (onde 96 pessoas, a sua grande maioria fãs dos 'reds', morreram), como remodelação. Do futebol inglês, dos clubes, do Liverpool, que apesar de continuar a dominar no plano interno perdeu a aquela que foi a melhor ocasião da sua existência para se elevar a patamares inigualáveis a nível europeu. Passava a oportunidade, entrava o clube em declínio...
(Fim da segunda parte)